terça-feira, 9 de agosto de 2011

Kyoto - Parte II

Começámos o segundo dia em Kyoto por visitar o Sanjusangendo, um templo do século XII que tem 1001 estátuas de Kannon (a deusa da misericórdia). A utilização de intervalos era o método tradicional de medir o comprimento de um edifício. O nome deste templo significa, literalmente, "33 intervalos", que corresponde ao número de intervalos entre as colunas de suporte.
Construídas segundo os princípios budistas, as estátuas têm 11 cabeças para observarem o sofrimento humano e 1000 braços para lhes prestarem auxílio. Segundo as explicações que nos deram, embora as representações do templo tenham 42, se subtrairmos os dois braços humanos e multiplicarmos pelos 25 planos de existência do budismo, obtemos os 1000 braços da Kannon.

Embora fenomenal pelo mar de Budas, esta fotografia não é nossa - não é permitido fotografar o interior do templo.



Seguimos para a Heian Shrine, onde se encontra um dos maiores Toris do Japão e cujo edifício principal é uma réplica do Palácio Imperial de Kyoto. À entrada fomos abordados por um pequeno grupo de estudantes de Relações Internacionais. Estes jovens ofereceram-se para nos fazer uma visita guiada ao complexo. Além de uma pequena lição de história, ensinaram-nos as tradições envolvidas na visita a um santuário xintoísta.


Continuava muito calor...
 

Tirámos os papéis da sorte e os nossos guias ajudaram-nos a interpretá-los. A quem tenha sorte "má" ou "normal" é sugerido que ate o papel a uma árvore. Ambos tivemos sorte "normal".
Ao atarmos os papéis à árvore, estamos a afastar as influências mais azaradas e a atrair a "boa" sorte.
Nós e os guias!
Continuámos para o templo Nanzenji, um dos mais importantes templos Zen do Japão. Este é um complexo de dimensões consideráveis e diversos subtemplos. Na área envolvente existe um aqueduto da Era Meiji, que contrasta com as construções tradicionais budistas. Destaca-se ainda um massivo Portão Sanmōn construído em honra dos soldados que morreram no cerco ao Castelo de Osaka, em 1615.

Portão Sanmōn.

Porta pequena até para padrões japoneses!

Seguimos o Caminho do Filósofo, um troço pavimentado de pedra que segue um canal ladeado de cerejeiras. O nome deve-se ao filósofo Nishida Kitaro, um dos mais famosos do Japão, que se pensa ter praticado meditação no seu caminho diário (este!) para a Universidade de Kyoto.


No final do caminho encontra-se o Ginkaku-Ji (Pavilhão Prateado). É um templo Zen que, apesar dos planos iniciais e do próprio nome, nunca chegou a ser coberto de prata. Mesmo assim, existem diversas tentativas de explicar o nome, desde o contraste entre o luar e a cor escura do edifício até à semelhança entre o jardim de pedras e o mar ao luar.




Numa pausa para almoço, decidimos experiementar massa (noodles) de chá verde. Ao contrário do ramen, servido quente, neste prato a massa é servida fria numa esteira, com molho de soja (também frio) num recipiente à parte, onde se mergulham os noodles antes de comer. Por ser fresco, é muito popular nos meses de Verão.

Acreditem ou não, apesar da cor verde, esta massa era deliciosa!

No Parque Imperial, uma vasta área onde o Imperador residiu enquanto Kyoto foi a capital, a Sandra fez com que os japoneses pensassem que era uma Ninja a tentar assaltar o complexo. Ao saltar esta pequena vala ...


... os alarmes soaram alto e bom som, sendo acompanhados de uma torrente de palavras japonesas gravadas. Depois de hesitarmos 5 segundos, decidimos agir como se nada fosse. Ao cruzarmo-nos com um carro da polícia que se deslocava a uma velocidade inferior à nossa (íamos a pé), decidimos continuar com ar de turistas discretos. No entanto, passado algum tempo, olhámos para trás e a polícia estava parada no "local do crime"... Oops!

Portão no Parque Imperial.
Depois desta aventura, e para aliviar o calor, seguimos o exemplo dos japoneses e fomos para as Ilhas Kame (tartaruga em Japonês). Nota: Na realidade o nome foi dado por nós - as "Ilhas Kame" são apenas pedras em forma de tartaruga, posicionadas de forma a ajudar as pessoas a atravessar o rio.

A caminho do autocarro, encontrámos os tijolos mais simpáticos de sempre...
Premiámos os nossos pés que tanto sofreram...
E praticámos surf de Tartaruga.
Ao final da tarde dirigimo-nos para a zona de Gion, que remonta à Época Medieval e é simplesmente o mais conhecido bairro de Geishas de todo o Japão! Tivemos a sorte de ir a Kyoto na altura de uma grande festividade, o Gion Matsuri, que se realiza uma vez por ano e apenas nesta cidade. O grande festival deve o seu nome ao bairro de Gion e termina com o Yamaboko Junkō, um desfile tradicional com o objectivo de acalmar a ira das divindades que causam fogos, inundações e sismos.

Na véspera do Yamaboko Junkō havia já uma grande animação junto à Yasaka Shrine, de onde começa o desfile. Algumas ruas estavam já cortadas ao trânsito...


... e havia imensas bancas a vender comida (como cachorros, fruta, Yakitori [espetadas de carne com molho adocicado] e gelados, entre outras iguarias). Estas barraquinhas são tradição aparente em qualquer evento festivo, tendo em conta os que já encontrámos.


Algo que nunca tínhamos visto foi uma barraquinha com o jogo tradicional Kingyo Sukui. O objectivo deste jogo é tentar apanhar pequenos peixes vermelhos de um tanque com artefactos especiais, denominadas Poi, que são parecidos com lupas, que têm papel em vez de vidro. Como são tão frágeis, a parte central vai-se destruindo. O jogo termina quando só restar a "moldura" do Poi. No final os jogadores ficam com os peixes que tiverem conseguido "pescar". A quem não tenha conseguido apanhar nada, por vezes o dono da banca oferece um ou dois peixes.


Junto ao mesmo santuário decorria uma peça de Teatro Noh - um tipo de drama musical ao estilo japonês que remonta ao século XIV e onde tanto as máscaras como os trajes desempenham um importante papel.

Teatro Noh.
Teatro Noh.
Zona interior do templo.
As festividades estendiam-se ao longo de alguns quilómetros.
Quando a fome começou a apertar, procurámos um sítio para jantar. Numa rua mais calma encontrámos um restaurante simpático onde comemos um dos ramens mais deliciosos de todos os tempos.



Mais recompostos, deambulámos um pouco pelas ruas mais escondidas de Gion, onde quase conseguimos sentir como seria viver no Século XVII.




Gion estende-se até às margens do rio Kamogawa. Do outro lado existe o bairro Pontoncho, famoso pelas casas de Geishas e pelas casas de chá tradicionais. Toda a margem do rio, deste lado, estava cheia de pessoas sentadas. Foi difícil encontrarmos um lugar para nós!...



No regresso ao Ryokan vimos alguns desfiles. Centenas de pessoas assistiam, animadas - muitas delas de Yukata e chinelos de madeira!


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