sábado, 27 de agosto de 2011

Kyoto - Parte IV

No último dia em Kyoto, depois de fazermos o check-out do Ryokan e de tirarmos algumas fotografias para recordar...



... fizemos uma breve passagem pelo templo Toji, onde se situa um importante marco de Kyoto - a mais alta pagoda do Japão. Originalmente construída no ano 826, esta pagoda tem 57 metros de altura.

À volta do templo existem lagos cheios de nenúfares!


Seguimos para a estação de Kyoto, onde apanhámos um comboio para Fushimi Inari, um santuário que se estende ao longo de alguns quilómetros da montanha Inari. Era um dos sítios que fazíamos mesmo questão de visitar na região de Kyoto e que não deixou de nos impressionar. Percorremos trilhos cobertos de Toriis até ao topo da montanha, encontrando aqui e ali pequenos santuários com oferendas de Toriis de todos os tamanhos.





Os japoneses escrevem os seus desejos em pequenas placas de madeira, que colocam junto aos templos. Contudo, em Fushimi Inari, Toriis de reduzidas dimensões desempenham esta função.


As fantásticas paisagens, em conjugação com a singularidade dos caminhos, conferem uma atmosfera mística a este lugar.



Se não fosse já evidente a importância do arroz na cultura japonesa, o magnífico santuário Fushimi Inari poderia confirmar este facto - no Xintoísmo, Inari é a divindade do arroz! Uma vez que este cereal representa riqueza e prosperidade, Inari acaba por ser, para os japoneses, a divindade responsável pelos negócios. De facto, todos os Toriis que ladeiam os trilhos da montanha foram doados por comerciantes como forma de adoração a Inari.


Uma vez terminado o trilho da montanha Inari, fizemos uma viagem de cerca de uma hora até Nara. Esta cidade foi a primeira capital permanente do Japão, de 710 a 784, originalmente construída com inspiração na capital coreana da dinastia Baekje, Wiryeseong (actual Seoul). O primeiro nome da  capital japonesa foi Heijō-kyō, "cidadela da paz". A palavra "nara" tem origem na coreia da dinastia Baekje, em que singnifica "nação".

Os veados passeiam livremente pelos parques, templos e algumas ruas de Nara.



Veado despenteado a proteger-se calmamente da chuva à entrada de um templo.

De acordo com a lenda, quando se tornou a capital do Japão, uma divindade xintoísta dirigiu-se a esta cidade num veado branco. Desde então, os veados proliferaram em Nara. São vistos como animais sagrados e, ainda hoje em dia, bastante respeitados. Os esforços para preservar a saúde dos veados passam pela venda de biscoitos próprios para estes animais por toda a cidade. Além das bancas de rua, até nas máquinas de bebidas é possível encontrar biscoitos shika sembei!



E não são só os locais que gostam dos veados...



Em Nara destaca-se o templo Todai-ji. A estrutura actual, terminada em 1709, tem dois terços das dimensões originais. Mesmo assim, este é o maior edifício de madeira do mundo. No seu interior encontra-se a maior estátua de bronze do Buda sentado, que mede 15 metros e pesa 500 toneladas!



A nosso final de tarde em Nara foi bastante "aquático", dado que apanhámos uma grande molha. Aproximava-se um tufão (zee big typhoon, como disse o senhor do Ryokan).

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Kyoto - Parte III

Começámos o terceiro dia por assistir o Yamaboko Junkō. Trata-se do culminar do Gion Matsuri e consiste no desfile de dois tipos de carros alegóricos: Yama e Hoko. Os Yama são os carros mais pequenos, pesando dez vezes menos que os Hoko, que facilmente chegam a doze toneladas.

Carro Yama.
Carro Hoko.
Foi decretado como um evento anual em 970, como um ritual religioso para acalmar a ira das divindades responsáveis pelas catástrofes naturais. Mais de dez séculos depois, continua a realizar-se anualmente.

Reúnem-se milhares de pessoas (principalmente japoneses, de diversas partes do país), para assistir a este espectáculo. Vêem-se também, claro, estrangeiros curiosos como nós. Os hotéis de Kyoto enchem nesta altura do ano e paira no ar um ambiente festivo. As ruas ficam completamente cheias de japoneses animados e as pessoas debruçam-se nas varandas dos edifícios para ver a procissão passar, sempre ao som da animada música tradicional.


Para os carros alegóricos Hoko é difícil fazer a curva. São colocadas canas de bambú cortadas ao meio sob as rodas do carro, sendo este puxado perpendicularmente.
As pessoas que aqui se vêem estavam a utilizar os fios que tinham nas mãos para produzir música.
No topo deste carro Hoko está o pagem sagrado, coroado por uma fénix dourada. Trata-se de uma criança pertencente a uma família de mercadores de Kyoto que é escolhida para desempenhar este papel e que, para tal, é submetida a várias semanas de purificação.
Continuava muito calor em Kyoto. Para ajudar a aliviar esta sensação, foram colocados na rua grandes vaporizadores de água. Tão bom!

Aqui estão alguns vídeos do Yamaboko Junkō:



 

À tarde decidimos visitar o Castelo de Himeji. Situado no alto de uma colina, é o maior dos 12 castelos feudais que ainda existem no Japão. Devido às paredes caiadas, é conhecido pelos japoneses como "garça branca". A sua arquitectura, outrora centrada na funcionalidade militar, evoluiu para linhas mais graciosas ao ser construída a torre principal, em 1609, para dar ênfase ao poder do Xogum. Foi classificado pela UNESCO como Património da Humanidade.




Ao avistarmos o castelo ao longe, sentimo-nos um pouco desiludidos - estava em obras!

No Japão há mascotes para tudo - esta é a do Castelo Himeji. Sim, até nos pinos aparece!

Mas decidimos visitar na mesma... E não nos arrependemos!

Simpáticos senhores com verdadeiro espírito samurai - e não só pela roupa!...


Corredores no interior do castelo.

Aposentos da princesa Sen (Senhime), filha do Xogum Tokugawa Hidetada e neta do primeiro Xogum, Tokugawa Ieyasu. Esta princesa tem uma história trágica. Casou aos sete anos de idade e ficou viúva aos 19, no contexto do ataque ao castelo de Osaka, onde vivia. O avô transferiu-a para este castelo, onde viveu após novo casamento, do qual resultaram dois filhos. Um dos filhos morreu aos três anos e, cinco anos depois, a princesa perdeu a mãe e o marido. Após estes acontecimentos, converteu-se em freira budista (o conceito existe!) e mudou-se para Tokyo.

Armaduras Samurai em exposição no castelo.
À boa maneira japonesa, as obras são levadas muito a sério. Foi construído um edifício à volta da torre em obras - assim, o público pode visitar o castelo durante os 5 anos de restauro. Além de podermos ver o trabalho de restauro, aprendemos imenso sobre as técnicas e os materiais usados na construção e até sobre a história do castelo. É possível subir ao topo do edifício de suporte (que é climatizado e tudo!), de onde se tem uma vista bastante agradável sobre os jardins do castelo e a cidade de Himeji.





terça-feira, 9 de agosto de 2011

Kyoto - Parte II

Começámos o segundo dia em Kyoto por visitar o Sanjusangendo, um templo do século XII que tem 1001 estátuas de Kannon (a deusa da misericórdia). A utilização de intervalos era o método tradicional de medir o comprimento de um edifício. O nome deste templo significa, literalmente, "33 intervalos", que corresponde ao número de intervalos entre as colunas de suporte.
Construídas segundo os princípios budistas, as estátuas têm 11 cabeças para observarem o sofrimento humano e 1000 braços para lhes prestarem auxílio. Segundo as explicações que nos deram, embora as representações do templo tenham 42, se subtrairmos os dois braços humanos e multiplicarmos pelos 25 planos de existência do budismo, obtemos os 1000 braços da Kannon.

Embora fenomenal pelo mar de Budas, esta fotografia não é nossa - não é permitido fotografar o interior do templo.



Seguimos para a Heian Shrine, onde se encontra um dos maiores Toris do Japão e cujo edifício principal é uma réplica do Palácio Imperial de Kyoto. À entrada fomos abordados por um pequeno grupo de estudantes de Relações Internacionais. Estes jovens ofereceram-se para nos fazer uma visita guiada ao complexo. Além de uma pequena lição de história, ensinaram-nos as tradições envolvidas na visita a um santuário xintoísta.


Continuava muito calor...
 

Tirámos os papéis da sorte e os nossos guias ajudaram-nos a interpretá-los. A quem tenha sorte "má" ou "normal" é sugerido que ate o papel a uma árvore. Ambos tivemos sorte "normal".
Ao atarmos os papéis à árvore, estamos a afastar as influências mais azaradas e a atrair a "boa" sorte.
Nós e os guias!
Continuámos para o templo Nanzenji, um dos mais importantes templos Zen do Japão. Este é um complexo de dimensões consideráveis e diversos subtemplos. Na área envolvente existe um aqueduto da Era Meiji, que contrasta com as construções tradicionais budistas. Destaca-se ainda um massivo Portão Sanmōn construído em honra dos soldados que morreram no cerco ao Castelo de Osaka, em 1615.

Portão Sanmōn.

Porta pequena até para padrões japoneses!

Seguimos o Caminho do Filósofo, um troço pavimentado de pedra que segue um canal ladeado de cerejeiras. O nome deve-se ao filósofo Nishida Kitaro, um dos mais famosos do Japão, que se pensa ter praticado meditação no seu caminho diário (este!) para a Universidade de Kyoto.


No final do caminho encontra-se o Ginkaku-Ji (Pavilhão Prateado). É um templo Zen que, apesar dos planos iniciais e do próprio nome, nunca chegou a ser coberto de prata. Mesmo assim, existem diversas tentativas de explicar o nome, desde o contraste entre o luar e a cor escura do edifício até à semelhança entre o jardim de pedras e o mar ao luar.




Numa pausa para almoço, decidimos experiementar massa (noodles) de chá verde. Ao contrário do ramen, servido quente, neste prato a massa é servida fria numa esteira, com molho de soja (também frio) num recipiente à parte, onde se mergulham os noodles antes de comer. Por ser fresco, é muito popular nos meses de Verão.

Acreditem ou não, apesar da cor verde, esta massa era deliciosa!

No Parque Imperial, uma vasta área onde o Imperador residiu enquanto Kyoto foi a capital, a Sandra fez com que os japoneses pensassem que era uma Ninja a tentar assaltar o complexo. Ao saltar esta pequena vala ...


... os alarmes soaram alto e bom som, sendo acompanhados de uma torrente de palavras japonesas gravadas. Depois de hesitarmos 5 segundos, decidimos agir como se nada fosse. Ao cruzarmo-nos com um carro da polícia que se deslocava a uma velocidade inferior à nossa (íamos a pé), decidimos continuar com ar de turistas discretos. No entanto, passado algum tempo, olhámos para trás e a polícia estava parada no "local do crime"... Oops!

Portão no Parque Imperial.
Depois desta aventura, e para aliviar o calor, seguimos o exemplo dos japoneses e fomos para as Ilhas Kame (tartaruga em Japonês). Nota: Na realidade o nome foi dado por nós - as "Ilhas Kame" são apenas pedras em forma de tartaruga, posicionadas de forma a ajudar as pessoas a atravessar o rio.

A caminho do autocarro, encontrámos os tijolos mais simpáticos de sempre...
Premiámos os nossos pés que tanto sofreram...
E praticámos surf de Tartaruga.
Ao final da tarde dirigimo-nos para a zona de Gion, que remonta à Época Medieval e é simplesmente o mais conhecido bairro de Geishas de todo o Japão! Tivemos a sorte de ir a Kyoto na altura de uma grande festividade, o Gion Matsuri, que se realiza uma vez por ano e apenas nesta cidade. O grande festival deve o seu nome ao bairro de Gion e termina com o Yamaboko Junkō, um desfile tradicional com o objectivo de acalmar a ira das divindades que causam fogos, inundações e sismos.

Na véspera do Yamaboko Junkō havia já uma grande animação junto à Yasaka Shrine, de onde começa o desfile. Algumas ruas estavam já cortadas ao trânsito...


... e havia imensas bancas a vender comida (como cachorros, fruta, Yakitori [espetadas de carne com molho adocicado] e gelados, entre outras iguarias). Estas barraquinhas são tradição aparente em qualquer evento festivo, tendo em conta os que já encontrámos.


Algo que nunca tínhamos visto foi uma barraquinha com o jogo tradicional Kingyo Sukui. O objectivo deste jogo é tentar apanhar pequenos peixes vermelhos de um tanque com artefactos especiais, denominadas Poi, que são parecidos com lupas, que têm papel em vez de vidro. Como são tão frágeis, a parte central vai-se destruindo. O jogo termina quando só restar a "moldura" do Poi. No final os jogadores ficam com os peixes que tiverem conseguido "pescar". A quem não tenha conseguido apanhar nada, por vezes o dono da banca oferece um ou dois peixes.


Junto ao mesmo santuário decorria uma peça de Teatro Noh - um tipo de drama musical ao estilo japonês que remonta ao século XIV e onde tanto as máscaras como os trajes desempenham um importante papel.

Teatro Noh.
Teatro Noh.
Zona interior do templo.
As festividades estendiam-se ao longo de alguns quilómetros.
Quando a fome começou a apertar, procurámos um sítio para jantar. Numa rua mais calma encontrámos um restaurante simpático onde comemos um dos ramens mais deliciosos de todos os tempos.



Mais recompostos, deambulámos um pouco pelas ruas mais escondidas de Gion, onde quase conseguimos sentir como seria viver no Século XVII.




Gion estende-se até às margens do rio Kamogawa. Do outro lado existe o bairro Pontoncho, famoso pelas casas de Geishas e pelas casas de chá tradicionais. Toda a margem do rio, deste lado, estava cheia de pessoas sentadas. Foi difícil encontrarmos um lugar para nós!...



No regresso ao Ryokan vimos alguns desfiles. Centenas de pessoas assistiam, animadas - muitas delas de Yukata e chinelos de madeira!