segunda-feira, 30 de junho de 2014

Subida ao Monte Fuji!

O Monte Fuji, com 3776 metros, é a montanha mais alta e mais importante do Japão. É também uma montanha icónica sobre o próprio país, figurando em numerosas ilustrações, inclusive a famosa "Grande Onda de Kanagawa", Katsushika Hokusai, 1830-1833.


Muitos japoneses têm a tradição de subir ao Monte Fuji. Apesar de especialmente sagrado para o Xintoístas, é também importante para os Budistas japoneses, uma vez que acreditam que o Fuji representa um portal para uma dimensão divina. No entanto, dada a dificuldade da subida e, por outro lado, a experiência de vida que representa a subida ao Fuji, existe um ditado popular japonês que diz: "Quem sobe ao Fuji uma vez é sábio; quem sobe duas vezes é tolo".

Ora, nós quisemos seguir a tradição e tornar-nos sábios :) Portanto, decidimos subir ao Fuji.

Por vários motivos, esta subida foi um momento. Digamos que foi a aventura mais dura, fisicamente falando. Foi também o nascer do sol que mais quilómetros percorremos para ver, pelo menos a andar a pé e a subir uma montanha.

Mas, para chegar a este nascer do sol, temos de recuar ao por do sol do dia anterior, em que a nossa aventura teve início. Numa sexta feira à tarde saímos um pouco mais cedo do trabalho e, juntamente com os nossos colegas e amigos, depois de apanharmos um comboio e um autocarro, chegámos à base do Monte Fuji.

Chegada à base do Monte Fuji (quinta estação).

O acesso ao topo do Monte Fuji tem vários caminhos possíveis. Nós seguimos o vermelho (Subashiri) porque foi a este que conseguimos mais fácil acesso através de transportes públicos.

Depois de jantarmos e comprarmos bastões para nos ajudarem na subida ("e que grande grande ajuda", diz a Sandra; "coff", diz o Gonçalo), começámos a subida.

Jantar pré-subida.
Todo o grupo, em que apenas dois aventureiros não contaram com a ajuda dos bastões.
Apesar de irmos prevenidos com lanternas, não estava uma noite de breu completo. Além disso, para nossa surpresa, graças à elevada densidade habitacional do Japão, conseguíamos ver centenas e centenas de luzes ao fundo, à medida que subíamos.

Luzes ao fundo durante a subida
Como a subida é de uma dificuldade considerável, existem várias estações de paragem, de descanso e até de dormida, ao longo do caminho. Nestas estações normalmente há pelo menos um "quiosque" de venda de alimentos e, por vezes, várias lojas e pequenas "casas de descanso" para quem quiser parar para um pouco mais do que um snack. Para quem compra uma viagem para subida do Monte Fuji, há pacotes que incluem estadia nestas "casas de descanso" para as pessoas poderem dormir algumas horas e restabelecer forças antes de continuarem a dura subida. No nosso caso, "não há cá descanso", ou seja, contentávamo-nos com uma paragem de alguns minutos para descansar as pernas e um snack para restabelecer energias.

Paragem durante a subida (sexta estação)
Ao longo do caminho encontrámos alguns locais que pareciam mini-santuários.
Sétima estação.
Durante a subida, o cansaço acumulado foi ficando visível na cara das pessoas.
Nesta altura, com o frio, tivemos de recorrer às fatiotas fantásticas: os impermeáveis que comprámos na loja dos 100 yen (menos de um euro) perto da nossa casa em Tokyo. Comprámo-los para a eventualidade de chover durante a subida ao Fuji e, embora não tenha chovido, fizeram um ótimo trabalho contra o vento, que na realidade é o que "dói" mais.
E, depois de nove horas desde que partimos da base do Fuji, chegámos finalmente ao topo. Houve quem fizesse auto-diagnóstico in loco de doença da altitude a menos de 500 metros do destino, houve quem tivesse náuseas, tonturas e até princípio de hipotermia já quase no topo e todos, sem exceção, estávamos completamente exaustos!...

Para combater a exaustão e o frio, o Gonçalo comeu este maravilhoso shoyu ramen e a Sandra bebeu um chocolate quente em lata que estava a aquecer numa panela com água a ferver (era tremendamente artificial mas soube pela vida!).
E foi com estas caras que nós assistimos ao lindo nascer do sol no topo do Monte Fuji a mais de 3700 metros de altitude (vestidos a rigor com o belo impermeável de plástico "rasca" de menos de 1 euro).
O ondular das nuvens no céu. Tudo tem outra vida no topo do mundo.
Não, não fomos só nós. Nessa altura apercebemo-nos por que razão havia fila na última hora de subida. Nesta altura, ao ver o nascer do sol, os japoneses gritavam "banzai!", uma espécie de "viva!" dos japoneses que significa, literalmente, "dez mil anos de vida".
Gostámos do efeito dos cones vulcânicos secundários a romper as nuvens mais abaixo.
E mais "nascer do sol", que era tão bonito :)
Vista panorâmica do topo do Fuji.
Apesar do cansaço, a Sandra não resistiu ao momento "José Hermano Saraiva" na cratera do Fuji.
E cá está uma vista mais geral da cratera. 

Depois de uma subida muito difícil, nós pensámos que a descida ia ser "uma peninha". Não podíamos estar mais enganados. Para além de ter demorado cerca de cinco horas, tivemos uma descida emocionante (ou talvez extenuante), com inclinações variáveis (de "normais" a incrivelmente elevadas) e piso também variável (umas zonas com pedras vulcânicas, outras com terra/areia em que os pés se afundavam tanto que, ao descalçarmos os ténis ao fim do dia, houve "derramamentos de areia"). Sim, também tivemos de parar para descansar e recuperar de alguns pés torcidos.

Já no comboio para Tokyo, praticamente 24 horas depois do início da aventura. Pudemos finalmente ceder ao cansaço.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Nikko - Parte II - Santuários e Templos de Nikko

No segundo dia em Nikko fizemos a rota histórico-religiosa:

"Há mais de 1200 anos, o notável monge budista Shodo Shonin atravessou o rio Daiya a caminho do monte Nantai e fundou o primeiro templo em Nikko. Séculos mais tarde, Nikko era já um reconhecido centro religioso Budista-Xintoísta, e o chefe militar Tokugawa Ieyasu escolheu o local para erguer o seu mausoléu. Quando, em 1634, o seu neto Iemitsu mandou construir o mausoléu santuário de Tosho-gu, pretendia demonstrar o poder e riqueza do clã Tokugawa. Desde então, Nikko (日光), escrito com caracteres que significam "luz do sol", tornou-se um dos símbolos do esplendor japonês." Guia American Express Japão

Começámos por passar pela ponte de Shinkyo, onde (diz a lenda) o monge Shodo Shonin passou o rio sentado sobre duas enormes serpentes.


Entrámos na zona do Santuário de Tosho-gu, que é património mundial da UNESCO.

Gonçalo junto ao templo de Shihonryu-ji, atualmente denominado Rinno-ji, o primeiro templo fundado em Nikko, por Shodo Shonin, em 766.
Tokugawa Iemitsu não olhou a custos para construir o mausoléu-santuário Tosho-gu em honra do seu avô Ieyasu. Como resultado, este santuário contém elementos extravagantes, refletidos nas principais atrações que visitámos. Ieyasu (1543-1616) fundou a dinastia Tokugawa, que governou o Japão por mais de 250 anos. Apesar de ser originário de uma família nobre pouco importante, devido às suas capacidades de estratégia e astúcia política conseguiu (embora apenas aos 60 anos de idade) ascender a Xógum. Na altura a capital do Japão era Kyoto, mas Ieyasu moveu-a para a então pouco desenvolvida cidade de Edo, agora Tokyo. É na torre do tesouro deste sumptuoso santuário que se encontram as cinzas de Ieyasu.
Pagoda de cinco andares. Cada um destes andares representa, por ordem ascendente, terra, água, fogo, ar e céu.
Estábulo sagrado. Este famoso edifício de madeira não pintada tem várias esculturas. Numa das principais, três macacos sábios ensinam que as crianças não devem ver, dizer ou ouvir qualquer maldade.
Porta Yomeimon, considerada uma das estruturas mais ornamentadas de todo o Japão. Uma das doze colunas foi esculpida de pernas para o ar, propositadamente para evitar enfurecer espíritos invejosos.
Pormenor das ornamentações da Porta Yomeimon.
Biblioteca com escrituras budistas (à esquerda) e torre do tambor. Esta torre simboliza o nascimento / o positivo e faz par com uma outra, simetricamente colocada no templo, a torre do sino, que representa a morte / o negativo. Sempre o yin e o yang :)
Seguimos para o santuário Futarasan. Também fundado por Shodo Shonin, em 782, é dedicada aos três deuses dos montes sagrados de Nikko.

Entrada do santuário Futarasan.
Dentro de um dos templos do santuário Futarasan.
Love tablet no santuário Futarasan :)
Seguimos para o santuário Taiyuin-byo. Este santuário destaca-se por ser o mausoléu do Tokugawa Iemitsu (1603-1651). Foi este o Xógum que fechou o Japão ao comércio com o estrangeiro, que isolou o país do mundo por 200 anos. É do outro lado da última porta deste templo que se encontra o túmulo de Iemitsu. A entrada principal do santuário é guardada em ambos os lados pelo deus guerreiro Nio.


A fonte de granito tem um dragão pintado no teto do seu telhado que por vezes é refletido na água da fonte.
Durante a nossa visita, mais uma vez começou a chover. Abrigámo-nos num dos altares budistas, o Haiden.

Chuva no altar budista Haiden, com vista para o altar dourado Honden.
Aventurámo-nos na chuva para observar e fotografar a porta Kokamon em estilo chinês da dinastia Ming.
Dirigimo-nos, finalmente, para a zona de Kanman-ga-fuchi, já fora da área do santuário Tosho-gu. Aqui percorremos parte de um trilho de caminhada com vista para as lagoas no leito do rio, formadas pela erosão de torrentes de lava resultantes de uma erupção do Monte Nantai.

A caminho encontrámos um besouro verde!
Este local é conhecido também pela fila de setenta estátuas de pedra de Jizo, uma das divindades mais adoradas no Japão, que representa a compaixão e a salvação universal.




quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Nikko - Parte I - Cascatas

Um dos fins de semana de verão decidimos visitar Nikko. Esta é uma vila a norte de Tokyo famosa pela sua história e natureza. Situa-se num parque natural de montanha com fantásticos lagos, cascatas, vistas panorâmicas, percursos pedestres e termas. Nikko foi um centro religioso Xintoísta e Budista e, portanto, tem vários templos e, num deles, o mausoléu do Xógum Tokugawa Ieyasu, o fundador da dinastia Tokugawa.

Como a nossa visita a Nikko se restringia a um fim de semana, decidimos comprar um passe ainda em Tokyo que incluía todos os transportes e entradas nas atrações principais. Dividimos a nossa visita a Nikko em duas partes temáticas: no primeiro dia visitámos o parque natural circundante e no segundo dia a ligação histórica de Nikko ao Xógunato.

A viagem de comboio entre Tokyo e Nikko ainda foi longa, isto é, ocupou-nos toda a manhã. Quando chegámos, à hora do almoço, fomos fazer o reconhecimento ao alojamento, apanhámos uma (pensámos nós) grande chuvada mas, mesmo assim, partimos à descoberta das famosas quedas de água da zona, ainda não muito molhados...

Os nossos passes
Uma hora de autocarro mais tarde, chegámos à primeira cascata, Kegon.

Para comemorar os 1276 metros de altitude... 
Fantástica paisagem montanhosa!
Estas quedas de água estavam algo escondidas no meio da floresta e numa zona escarpada pelo que, para chegar ao local panorâmico de observação, era preciso apanhar um elevador.


E depois do elevador...


A erosão ainda não apagou a origem vulcânica das escarpas que circundam a catarata.
Seguimos para a queda de água Ryuzu ou "cabeça de dragão", famosa no outono pelos vários tons de cores quentes, que também contribuem para o seu nome.



Seguimos para as últimas quedas de água do dia, as Yudaki. Antes de as visitarmos parámos para um snack, uns dango tradicionais cozinhados na brasa mesmo à nossa frente.




Fomos então espreitar as cascatas, que têm 25 metros de largura e 75 metros de altura.


Singing in the rain

Pois, já na altura chovia... Mas piorou.

Enquanto subíamos os 75 metros da cascata pela encosta que a ladeava, bastante íngreme, esta começou a transformar-se numa cascata adicional sobre nós.

As escadas não eram muito largas e estavam cheias de amálgamas disformes de lama e ramos de árvores que desciam pela encosta. Não há registos fotográficos desta parte porque estávamos a tentar que a máquina sobrevivesse ao temporal.

Apesar de tudo, chegámos ao topo.

O início da cascata Yudaki
Ponte sobre o lago que dá origem à cascata
Não é nevoeiro... é tudo chuva!
Com esta subida fenomenal e o retorno à paragem do autocarro ficámos molhados desde os pés às pontas dos cabelos. Como resultado, íamos literalmente a escorrer água quando conseguimos apanhar o autocarro de retorno. Quando chegámos ao alojamento em Nikko, cerca de duas horas depois, utilizámos todos os aparelhos eletrónicos que havia para conseguirmos secar roupa para ir jantar: aquecedor, secador, ar condicionado e ventoinha!


Como anteriormente não tínhamos conseguido fazer check-in no alojamento, transportámos todo o dia uma mochila com todos os nossos pertences. Portanto, o encharcamento total inclui tudo o que estava na mochila, como mudas de roupa, guias e as nossas carteiras. Foi aqui que o cartão de doutoramento do IST da Sandra morreu.

Depois de toda esta aventura (e quando conseguimos secar minimamente a roupa!) saímos para jantar um maravilhoso e reconfortante Ramen, o favorito da Sandra no Japão!!! Estava tão bom que nem nos lembrámos de tirar fotos.